Um palco vivo do presente e do futuro
Quem já pisou no chão da Koelnmesse durante uma gamescom sabe que há algo de mágico naquela imensidão de pavilhões. É diferente de assistir a trailers em casa ou acompanhar transmissões ao vivo: estar ali significa tocar o futuro dos games com as próprias mãos. Em 2025, a sensação foi ainda mais intensa. Enquanto a Opening Night Live trouxe anúncios de impacto, foram os estandes que se transformaram em templos de devoção, filas quilométricas de fãs aguardando pacientemente por alguns minutos de jogabilidade inédita. O burburinho das conversas, o tilintar constante dos controles, a iluminação extravagante e até o cheiro de comida de feira se misturavam em uma atmosfera que só a gamescom é capaz de oferecer.
Os jornalistas veteranos sabiam: era hora de registrar impressões que vão além do hype imediato. Já o público comum, em êxtase, encontrava nos estandes uma experiência que misturava entretenimento, comunidade e, principalmente, a chance de ser testemunha ocular de marcos que serão lembrados por anos. Entre dezenas de jogos apresentados, alguns se destacaram como verdadeiros fenômenos. E é sobre eles que vamos mergulhar agora — com calma, profundidade e a reverência que a história dos videogames exige.
Hollow Knight: Silksong — o mito finalmente ganha forma

Poucos jogos carregaram tanta expectativa nesta década quanto Hollow Knight: Silksong. Desde o anúncio em 2019, o projeto da Team Cherry se tornou quase uma lenda urbana. A ausência prolongada de informações alimentou teorias, memes e até um certo ceticismo: muitos já se perguntavam se o jogo realmente veria a luz do dia. Essa espera quase mítica transformou Silksong em algo maior que um simples lançamento — virou um símbolo da paciência (e impaciência) da comunidade indie.
Na gamescom 2025, o improvável aconteceu: Silksong estava lá, jogável, diante dos olhos do mundo. O estande da Team Cherry foi um dos mais disputados de toda a feira. Fãs se reuniam em filas que chegavam a ultrapassar duas horas de espera, mas ninguém parecia se importar. A sensação coletiva era de que estar ali equivalia a um rito de passagem. E quando finalmente colocavam as mãos no controle, o impacto era imediato.
A protagonista Hornet se movimenta com uma agilidade felina. Comparado ao Hollow Knight original, Silksong é mais rápido, mais vertical e mais fluido. A nova habilidade Bind adiciona uma camada estratégica inédita: é possível curar-se rapidamente em troca de recursos, incentivando um ritmo agressivo de combate. Os cenários exibidos na demo eram repletos de detalhes artísticos, mantendo a identidade sombria e delicada da série, mas explorando paletas de cores mais ousadas. Era como reencontrar um velho amigo que cresceu sem perder sua essência.
O que mais chamou a atenção não foi apenas a jogabilidade, mas a reação emocional do público. Muitos saíam do estande visivelmente comovidos, alguns descrevendo a experiência como “o fim de um ciclo de espera quase espiritual”. Silksong, de repente, deixou de ser um meme da internet para se tornar uma realidade palpável. E, mais importante, reforçou o valor das criações independentes no cenário global — um lembrete de que a paixão e o talento de um pequeno estúdio podem mover montanhas.
Pokémon Legends: Z-A — a reinvenção da lenda no Switch 2

A franquia Pokémon carrega um fardo peculiar: ser, ao mesmo tempo, conservadora e inovadora. A cada geração, a Game Freak precisa equilibrar a nostalgia de milhões de fãs com a necessidade de reinventar a fórmula. Em 2025, essa equação ganhou novos contornos com Pokémon Legends: Z-A, o primeiro título da série desenvolvido especificamente para o Nintendo Switch 2.
O estande da Nintendo era uma fortaleza cercada de curiosos, e Z-A ocupava o trono absoluto. Quem conseguiu acesso às sessões de gameplay descreveu a experiência como “um salto geracional genuíno”. Os gráficos, agora sustentados pelo hardware mais poderoso da Nintendo, finalmente se aproximam da visão idealizada que os fãs carregam desde a infância: cidades vibrantes, criaturas detalhadas e ambientes vivos, que respiram como ecossistemas de verdade.
Mas o que realmente roubou a cena foi a nova abordagem de combate. Pela primeira vez, Pokémon experimenta batalhas em tempo real com elementos estratégicos. O jogador pode se mover livremente pelo campo, posicionando-se taticamente enquanto emite comandos aos monstros. Isso cria uma sensação inédita de dinamismo, aproximando a experiência de jogos de ação sem abandonar a essência clássica do RPG por turnos. É como se Pokémon tivesse finalmente entendido o que significa evoluir de forma plena.
Historicamente, a franquia sempre foi criticada por seu conservadorismo técnico. Mesmo títulos elogiados, como Pokémon Legends: Arceus, foram apontados como limitados graficamente. Z-A, por outro lado, parece ser o jogo que quebra essa barreira. O entusiasmo no estande era palpável: crianças, adultos e veteranos trocavam olhares cúmplices, como quem percebe que está diante de um marco. E, de repente, Pokémon voltou a ser sinônimo não apenas de tradição, mas de futuro.
The Outer Worlds 2 — humor ácido em uma galáxia expandida

Em 2019, quando The Outer Worlds foi lançado, ele conquistou fãs com sua mistura de sátira social, humor ácido e gameplay que lembrava os melhores tempos de Fallout: New Vegas. Mas, ao mesmo tempo, deixou a sensação de que havia espaço para muito mais. Seis anos depois, The Outer Worlds 2 surge como a resposta definitiva a essas expectativas — e a gamescom 2025 foi o palco perfeito para exibir essa expansão de ambição.
O estande da Obsidian foi um espetáculo à parte. Telões exibiam trailers recheados de ironia metalinguística, enquanto cosplayers vestidos como NPCs icônicos abordavam os visitantes com diálogos sarcásticos. O clima era de celebração do absurdo, em sintonia com a alma da franquia. Mas a verdadeira surpresa estava no gameplay, que mostrava um universo vastamente mais ambicioso do que o original.
Agora, os jogadores podem explorar múltiplos planetas, cada um com ecossistemas, culturas e dilemas morais próprios. A liberdade de escolha — marca registrada da Obsidian — foi ampliada a níveis impressionantes. Em uma das demos, os jogadores precisavam decidir entre apoiar uma corporação interplanetária ou ajudar uma facção de rebeldes excêntricos. O humor estava presente em cada diálogo, mas o peso das decisões se fazia sentir. Era uma demonstração clara de como a sátira pode coexistir com profundidade narrativa.
A recepção foi efusiva. Muitos jornalistas destacaram que The Outer Worlds 2 parece finalmente ter encontrado sua identidade: não apenas um sucessor espiritual de Fallout, mas um universo próprio, carregado de personalidade. O estande, com sua ambientação exagerada, reforçava a sensação de que estávamos diante de uma obra que sabe rir de si mesma enquanto oferece uma experiência de RPG genuinamente robusta.
Borderlands 4 — o caos elevado à potência máxima

Se há uma franquia que entende como transformar um estande em festa, essa é Borderlands. Em 2025, a Gearbox levou essa filosofia ao extremo com Borderlands 4. O espaço dedicado ao jogo parecia uma balada futurista: luzes neon, música alta e cosplayers distribuindo loot boxes cenográficas. O público era recebido com entusiasmo ensurdecedor — e, em meio a tanta extravagância, havia um jogo para ser descoberto.
Borderlands 4 promete ser a experiência cooperativa definitiva. A demo jogável mostrou cenários ainda mais caóticos, inimigos mais bizarros e armas tão criativas que beiram a paródia. Mas o que realmente impressionou foi a fluidez do combate. A Gearbox conseguiu refinar a fórmula sem perder o senso de humor absurdo que tornou a franquia famosa. A cada explosão, a cada piada escrachada, a reação do público era de gargalhadas e aplausos.
O contexto histórico também pesa aqui. Borderlands definiu o gênero looter-shooter em 2009, mas, nos últimos anos, viu rivais como Destiny e Outriders tentarem ocupar o mesmo espaço. Borderlands 4 surge, portanto, como uma reafirmação de autoridade. E, se depender da recepção na gamescom, a coroa ainda pertence à Gearbox. A energia do estande era contagiante, lembrando mais um festival de música do que uma feira de games.
No fim das contas, Borderlands 4 não precisa reinventar a roda. Sua missão é entregar diversão pura, em escala cada vez maior. E, pelo que vimos em Colônia, essa missão foi cumprida com louvor.
Metroid Prime 4: Beyond — a lenda renasce

Poucas séries carregam tanto peso histórico quanto Metroid. Desde seu surgimento em 1986, a saga de Samus Aran moldou o gênero metroidvania e influenciou incontáveis desenvolvedores. No entanto, após anos de silêncio e adiamentos, a franquia parecia viver à sombra de seu próprio legado. Até que, na gamescom 2025, Metroid Prime 4: Beyond finalmente mostrou a que veio.
O estande da Nintendo dedicado a Metroid foi mais discreto que os de outros gigantes, mas talvez por isso mesmo transmitisse uma aura de solenidade. As telas exibiam gameplay em que Samus explorava ambientes alienígenas vastos, repletos de atmosferas misteriosas. A sensação de isolamento — elemento central da série — estava presente em cada detalhe. Mas agora, apoiada pelo poder do Switch 2, a escala e a imersão atingiram novos patamares.
Os fãs mais antigos se emocionaram com a fidelidade ao espírito da série Prime, enquanto novos jogadores se impressionaram com o refinamento da jogabilidade em primeira pessoa. A demo mostrava combates intensos contra criaturas colossais, mas também momentos de pura contemplação, em que o som ambiente e os visuais alienígenas convidavam à imersão. Era o Metroid que todos sempre sonharam ver, finalmente materializado.
Historicamente, Metroid sempre foi mais cultuado do que massivamente popular. Mas Prime 4: Beyond tem potencial para mudar isso. A recepção na gamescom deixou claro: Samus Aran voltou, e não apenas para satisfazer os veteranos, mas para conquistar uma nova geração de jogadores.
Outros destaques que ampliaram o espetáculo

Embora Silksong, Pokémon, Outer Worlds, Borderlands e Metroid tenham dominado as manchetes, outros jogos também mereceram destaque. O estande de Black Myth: Zhong Kui impressionou pela direção artística e pela ousadia de expandir o universo já estabelecido por Wukong. A experiência misturava música tradicional chinesa com projeções holográficas, criando um ambiente imersivo que transportava os visitantes para uma mitologia fascinante.
Já a recriação de cenários da série Fallout, inspirada na adaptação televisiva, foi um dos pontos altos da feira. Os visitantes podiam caminhar por um abrigo nuclear reproduzido em escala real, interagir com atores caracterizados e até receber “Nuka-Colas” cenográficas. Foi um lembrete poderoso de como o entretenimento moderno transita entre diferentes mídias, e de como a gamescom se transformou em um ponto de convergência para toda a cultura pop.
O amanhã vivido hoje
Ao deixar a Koelnmesse em 2025, o sentimento predominante era de que se havia participado de algo maior que uma simples feira. A gamescom mostrou que os estandes não são apenas vitrines de marketing, mas experiências vivas, capazes de emocionar, divertir e inspirar. Foi ali, entre filas, controles suados e olhos brilhando, que o futuro dos videogames se revelou em sua forma mais pura.
Seja no renascimento de lendas como Metroid, na consolidação de fenômenos indie como Silksong, na reinvenção de Pokémon ou na expansão de universos como Borderlands e Outer Worlds, a gamescom 2025 ficará registrada como um marco. E, para quem esteve presente, a memória não será apenas do que jogou, mas do que sentiu: a certeza de que o amanhã dos games pode ser experimentado hoje.